E-NEWSAÚDE #9

Julho | Agosto 2017

SAÚDE PSICOLOGIA

Excesso de competitividade

10 artigo

A PRESSÃO PARA SER O MELHOR PODE PROVOCAR SÉRIOS PROBLEMAS DE SAÚDE. TANTO NO PLANO PROFISSIONAL COMO NA VIDA PESSOAL, DEVEMOS EVITAR COMPETIÇÕES DESENFREADAS E DOENTIAS.

Costuma dizer-se que a vida é uma corrida de obstáculos. E é certamente assim para muitas pessoas, habituadas a esforçarem-se para chegar sempre a tudo e a todos. A pressa e a ansiedade perpétuas são os sintomas mais claros do excesso de competitividade, essa obsessão por dar sempre o melhor de si, que pode acabar por se transformar num problema sério. A pressão inicia-se muito cedo, logo na infância, quando começamos a sentir-nos avaliados de forma permanente pelos nossos pais, pelos professores e pelos próprios colegas. Ao atingirmos a idade adulta, amplia-se a liberdade de escolhas, mas também chegam as grandes responsabilidades, sobretudo as associadas ao mercado laboral. Basta ler os requisitos para concorrer a qualquer oferta de emprego: costuma exigir-se um elevado grau de especialização e, ao mesmo tempo, conhecimentos e aptidões que abarcam vários campos. E não é suficiente estar à altura dessas exigências, porque centenas de outras pessoas também o estão e aspiram ao mesmo trabalho que nós.

RESPOSTA À PRESSÃO

Uma vez conseguido o emprego, não se pode dizer que as coisas melhorem. Há que continuar a competir: com outras empresas, com os próprios colegas e, sobretudo, connosco próprios, para melhorar e poder aspirar a um melhor salário ou a uma promoção. A resposta a este tipo de pressão varia, em grande medida, com o carácter de cada um. É provável que uma pessoa seja capaz de ultrapassar os desafios sem demasiado esforço nem sofrimento, enquanto outras se sentem como escravas, vítimas da febre da competitividade sem limites. Se se encontra neste último caso, o melhor será refletir sobre as circunstâncias que o levaram a essa situação. Pode acontecer que seja uma das muitas pessoas particularmente vulneráveis ao stress, à síndroma das eternas pressas que não levam a parte alguma.

INFLUÊNCIA CULTURAL

A cultura ocidental está muito centrada no trabalho, ao contrário de outras, como a oriental, que aposta num estilo de vida mais espiritual e relaxado. Inclusive na Europa, encontramos países, como a Holanda, em que as jornadas laborais são muito mais curtas. Pelo contrário, os portugueses tendem a trabalhar muitas horas, talvez demasiadas, mas o resultado desse esforço costuma ser um rendimento laboral bastante baixo. Talvez se deva a uma deficiente organização e planificação das nossas empresas, ao hábito de efetuar longos períodos de descanso entre tarefas ou à tendência para deixar tudo para o último momento e acabar fazendo-o à pressa, sem o cuidado necessário. Outras causas prováveis são as pressões individuais ou de grupo – exercidas por chefes ou colegas – ou problemas pontuais, como o excesso de responsabilidade ou não saber delegar.

CONCEITO DE QUALIDADE DE VIDA

A sociedade moderna tende a avaliar as pessoas pelo seu trabalho e nível financeiro. Nós próprios temos muito em conta o nosso estatuto profissional e quanto dinheiro ganhamos, quando procuramos avaliar e decidir se estamos satisfeitos connosco próprios. O nosso conceito de qualidade de vida, que é um valor quase supremo na sociedade em que vivemos, centra-se em ter um trabalho digno, uma boa casa, um automóvel topo de gama e uma razoável capacidade de consumo. Habituámo-nos a perseguir sem descanso esses objetivos, em vez de, simplesmente, viver ao nosso ritmo e retirar prazer daquilo que fazemos.

FATORES BIOLÓGICOS

A resposta individual ao stress e à necessidade permanente de competir depende, em grande escala, de fatores biológicos. Apesar de tudo, a experiência anterior e aquilo que se aprendeu podem melhorar em muito a capacidade de resposta a estas pressões. Por outro lado, o meio ambiente, as pessoas que nos rodeiam e as atitudes e reações próprias também são fatores de grande importância, que contribuem para nos fortalecer ou, pelo contrário, para nos tornar mais vulneráveis.

 

CONSEQUÊNCIAS

A competitividade também tem efeitos positivos, pois conseguir aquilo que se quer pode ser um poderoso estímulo, que trás à luz do dia o melhor de cada um. Competindo, exploram-se as verdadeiras potencialidades e adquirem-se novos conhecimentos, algo que pode ser muito satisfatório e ajudar a progredir, não só a nível laboral, como também a nível social e pessoal. Entre os efeitos negativos, está o risco de se esquecer de si próprio, das suas verdadeiras necessidades, tornar-se obsessivo e perder a capacidade de apreciar aquilo que faz em cada momento, sem pensar num objetivo final.

 

CONSELHOS PRÁTICOS

Se o que leu até agora o fez pensar que talvez tenha um problema de excesso de competitividade, passe os olhos pela lista de conselhos práticos que se segue, os quais podem ajudar a superar o problema.

  • Pense nas vantagens e inconvenientes do estilo de vida que escolheu seguir. Pode ser útil interrogar-se se os seus objetivos são ou não realistas e, caso sejam, se os sacrifícios que tem de fazer para consegui-los compensam ou não.
  • Seja analítico. Pense que alternativas existem, antes de se lançar na perseguição de um objetivo concreto. Por vezes, pode obter-se o mesmo resultado com um esforço menor ou sem tantos sacrifícios. Considere essa possibilidade.
  • Quando tiver bem claro aquilo que realmente deseja, trace um plano metódico e razoável para o conseguir. Quanto mais detalhado for, mais ajudará a resolver os problemas concretos que podem ir surgindo.
  • Uma vez tomada uma decisão, deve avaliar passo a passo os resultados que vai obtendo e se estes recomendam algum tipo de ajuste ao plano inicial ou, inclusive, aos objetivos finais. Este processo de avaliação contínua é tão útil no trabalho como na vida.
  • Pense também nos tempos livres, o que faz com eles e se são satisfatórios. Não seria mau experimentar novas atividades, por mais disparatadas que pareçam: depois verá se continua ou não! Seria bom encontrar tempo para pequenas rotinas agradáveis durante a semana – sair para jantar, estar com amigos, etc. –, de forma que nem todo o tempo de ócio se concentre nos dois dias do fim de semana. É importante planificar com antecedência as atividades que assim o exijam, não vá um uma série de imprevistos impedir de desfrutar delas, o que criaria um certo sentimento de frustração. Em linhas gerais, é importante encontrar um equilíbrio razoável entre trabalho, relax e atividades de lazer.
  • Se o seu estado de espírito é baixo, tente encontrar algum tempo para pequenas coisas que o façam sentir bem, como tomar um banho quente ou dar um passeio. Por vezes, basta dedicar cinco minutos a atividades deste tipo para se sentir muito melhor.
  • É muito recomendável efetuar pequenas pausas durante o dia de trabalho, pelo menos, uma em cada duas horas. Cinco minutos para beber um copo de água são suficientes. Mais importante ainda é tentar ver o lado positivo de cada tarefa concreta.
  • Seja organizado. Planifique o seu dia em função do tempo disponível e das tarefas a realizar. Deve destinar a cada uma delas o tempo necessário, sem longas pausas nem interrupções, mas a um ritmo normal. Se tende a sofrer interrupções contínuas, procure converter, pelo menos, uma hora diária na “hora tranquila”, em que trabalhará de forma contínua e mais produtiva, sem distrações e sem atender chamadas que não sejam urgentes.
  • Falando de urgências, é importante ter claro quais são as prioridades, o que deve fazer em primeiro lugar e a que tarefas pode dedicar um pouco mais de tempo.
  • Também pode ser útil identificar as atividades que o fazem perder mais tempo e aquelas com que desfruta mais, de modo a trocar a forma de abordar as primeiras e de potenciar as segundas.
  • Por último, um conselho útil: analise a sua organização do espaço. A arrumação, a limpeza e a luz são fatores que contribuem para fazer com que se sinta mais confortável.

 

Aspetos relacionados com o excesso de competitividade

  • STRESS Existe um stress positivo, que é o estímulo que impulsiona à atividade, mas que tem de ser compensado com fases de relax. O problema ocorre quando, por excesso de pressão social ou qualquer outra causa, a balança se desequilibra demasiado a favor do stress.
  • ANSIEDADE
    A ansiedade surge quando a pessoa antecipa, de modo negativo, possíveis desgraças ou perigos, algo que pode vir acompanhado de sentimentos de tensão ou mal-estar.
  • DEPENDÊNCIA DO TRABALHO
    Produz-se quando o nível de entrega a uma tarefa é tão elevado que o mero facto de não a fazer gera mal-estar.
  • PADRÃO DE COMPORTAMENTO
    Pode dar-se em pessoas caracterizadas por uma excessiva implicação laboral e uma alta competitividade destinada a conseguir determinados objectivos. São pessoas impacientes, muito ativas, que tendem a realizar aceleradamente as tarefas e a quem custa apreciar momentos de ócio. Este tipo de comportamento está associado a um maior risco de stress e problemas cardíacos.
  • A competitividade pode ser um poderoso estímulo, mas também pode converter-se num grave problema

    Pense nas vantagens e inconvenientes do estilo de vida que escolheu: interrogue-se se os objetivos são realistas e se os sacrifícios compensam

    logo saude be


     

     

     

     

    ^