E-NEWSAÚDE #11

Novembro | Dezembro 2017

Novembro | Dezembro 2018

SAÚDE ERGONOMIA

Calçado saudável: Escolha com cuidado

11 artigo

O PÉ É UMA ESTRUTURA COMPLEXA, COM CAPACIDADES FÍSICAS E MECÂNICAS ESPECÍFICAS. POR ISSO, CADA PESSOA PRECISA DE SAPATOS QUE SE AJUSTEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS PARTICULARES, À RESPETIVA ATIVIDADE E AO MEIO QUE A RODEIA. INFELIZMENTE, NOS NOSSOS DIAS, O MAIS COMUM É ESCOLHER O CALÇADO EM FUNÇÃO DA MODA, ESQUECENDO AS NECESSIDADES BIOMECÂNICAS.

De acordo com a função que o sapato tenha de cumprir, alguns fatores de seleção ganham supremacia em relação a outros. Assim, verifica-se que um sapato “de toillete” de senhora, dotado de um salto fino e alto, pode ser extraordinariamente elegante, mas dificulta a normal função do pé durante a marcha e a biodistenção – isto é, a posição erguida que caracteriza os seres humanos. Contudo, se estes sapatos forem calçados durante pouco tempo – apenas numa festa, por exemplo –, não terão consequências adversas para a saúde.

Inversamente, os sapatos de criança devem dar prioridade à saúde do pé, deixando para segundo plano os aspetos estéticos. Por sua vez, quando se desenha calçado desportivo destinado à competição, deve dar-se ênfase ao rendimento e à funcionalidade.<br\> Independentemente das características específicas de cada tipo de calçado, características que se ajustam aos objetivos e às particularidades de cada utilizador, existem quatro requisitos funcionais mínimos e obrigatórios, do ponto de vista da manutenção da saúde:

  • a adaptação plena do calçado à forma e dimensões dos pés do utilizador;
  • a sua incidência positiva nos movimentos do pé;
  • a adequada amortização das cargas derivadas do contacto do pé com o solo; e
  • o mínimo atrito entre o calçado e a superfície do pé.

NÃO EXISTEM DOIS PÉS IGUAIS

Antigamente, quando um artesão se propunha fazer um par de sapatos, baseava-se em dimensões que eram tiradas diretamente dos pés do futuro utilizador. Tempos depois, com a chegada da Era Industrial, o calçado fabricado em série adaptou-se a um molde de madeira ou de outros materiais, cujo desenho dependia – e depende ainda hoje – da experiência acumulada pelos desenhadores ou do êxito obtido nas vendas de um determinado tipo de calçado. Esse molde, sobre o qual se efetua a montagem industrial dos diferentes componentes do calçado, é o que, em última instância, determina a forma e as dimensões do produto final.

No entanto, pode afirmar-se que não existem dois pés iguais. A idade, o sexo, a raça, o nível socioeconómico e a atividade física que os pés têm de suportar são fatores de carácter estrutural, que tornam difícil estabelecer modelos normalizados. Normalmente, é necessário procurar que o calçado se adapte ao pé e aos seus movimentos e nunca ao contrário. Há que banir a ideia de que os sapatos “são domáveis” com o uso. As agressões sobre as articulações, provocadas pelo uso prolongado de um calçado pontiagudo, bem como as erosões da pele e das unhas, devidas ao atrito do sapato, criam deformações e alterações que, em idades mais avançadas, dificultam a marcha e o uso de calçado normal.

AJUSTE CORRETO

É importante ter em conta que o pé não permanece imóvel dentro do sapato, nem o ocupa sempre do mesmo modo. Ao tomar contacto com o solo, o que geralmente se faz com o salto, o pé recua no sapato entre 7 e 10 mm, para logo de seguida, quando se encontra completamente apoiado, o arco plantar se distender e os dedos avançarem uns 4 a 6 milímetros.

Um sapato corretamente ajustado é aquele que reparte a pressão por igual e, consequentemente, o nível de fricção entre o calçado e o pé, em todas as zonas de contacto existentes entre ambos, com o fim de evitar, dentro do possível, lesar a pele e as zonas moles. Não se deve esquecer que o pé aumenta de volume com a fadiga e ao longo do dia – algo de muito importante em adultos com perturbações circulatórias – e que, portanto, há que evitar o calçado que não se adapte às referidas mudanças de volume. A pressão excessiva na zona do peito do pé, além de provocar perturbações circulatórias, pode irritar os tendões.

No caso concreto do calçado infantil, há que evitar que o pé da criança se veja comprimido, sobretudo na zona dos dedos. Geralmente, é aconselhável que estes sapatos sejam um pouco maiores do que o pé, para compensar a distensão deste ao andar e antecipar, também, o previsível e rápido crescimento. Recomenda-se, igualmente, que a ponta do sapato seja arredondada ou quadrada, de modo a que os dedos disponham de espaço suficiente para se moverem com inteira liberdade, na largura e no comprimento.

MOVIMENTOS CONTROLADOS

Qualquer calçado modifica, em maior ou menor medida, os movimentos fisiológicos do pé; no entanto, e segundo o uso que dele se faz, existem movimentos que convém limitar e outros sobre os quais o calçado não deve interferir de modo nenhum. Esta afirmação refere-se tanto aos dedos como ao arco plantar e ao tornozelo.

Quando se apoia o pé, ao caminhar ou correr, os dedos estendem-se e o pé alarga ligeiramente, em relação com o peso do corpo. Do mesmo modo, quando nos impulsionamos para a frente sobre a ponta dos pés, os dedos expandem-se para ambos os lados, segundo a direção exata em que se quer impulsionar o corpo. Por seu turno, uma biqueira estreita, na qual os dedos careçam de espaço suficiente para se moverem, modifica a posição do primeiro e do quinto dedo, durante o apoio do pé ao caminhar; estes, em contacto direto com as paredes do sapato, agrupam-se sobre os dedos médios e o padrão normal da marcha vê-se, assim, alterado.

Embora estas mudanças quase não afetem o equilíbrio e normal desenvolvimento da marcha, há algumas estruturas esqueléticas, menos resistentes, que se vão adaptando, de maneira progressiva, ao calçado estreito. Deste modo, a epiderme começa a formar calos, ao mesmo tempo que vai engrossando o tecido ósseo da cabeça dos metatársios, justamente no ponto onde se articulam o primeiro e o quinto dedos. A aparição desta deformidade – conhecida, vulgarmente, como joanete, quando aparece na articulação do dedo grande – é favorecida pelo uso continuado de um salto cuja altura seja superior a 2 centímetros. Não se deve escolher, pois, um calçado de biqueira estreita, se os nossos pés são largos na zona dos dedos.

Não obstante, é muito frequente que se prefira passar um mau bocado, estar incómodo e caminhar com certo sofrimento, quando a ocasião vale a pena. Se é este o caso, apesar do que já foi dito, se deseja usar um calçado de biqueira estreita, convém decidir-se por um que tenha uma forma ligeiramente curva; este tipo de molde adapta-se melhor à forma dos dedos e permite uma maior funcionalidade aos primeiro e segundo dedos, que são os encarregados da transferência da carga corporal de um apoio para o outro e de quem depende, em boa medida, a segurança e estabilidade do passo.

BOA FLEXIBILIDADE

Uma recomendação básica para todo o tipo de calçado é que seja flexível na chamada zona de quebra – linha das articulações –, para não impedir o normal desenvolvimento do passo. Ao selecionar uns sapatos, deve caminhar-se um pouco com eles e colocar-se em bicos dos pés, para comprovar que a zona de quebra coincide com a linha articular. Essa flexão na zona de quebra, que poucos sapatos conseguem apresentar, deve ser um pouco oblíqua, imitando a dos dedos do pé. Se o calçado não se adapta a este movimento, além de dificultar a marcha, o material que cobre o pé na zona da articulação pode formar pregas, as quais criam erosão na pele. Do mesmo modo, se o calçado é rígido nesta zona, o calcanhar terá tendência a sair do sapato e a roçar continuamente com o contraforte, o que também tem consequências desagradáveis.

Existem modelos cuja flexibilidade na zona de quebra é escassa ou nula, devido ao material com que são fabricados e à espessura da sola: por exemplo, o calçado de sola alta. Nestes casos, convém escolher um modelo cuja ponta seja alta relativamente ao plano de apoio.

O grau de elevação da ponta depende do tipo de calçado, mas, geralmente, recomenda-se o uso de sapatos que, ao efetuar-se o passo, permitam um suave movimento de rotação, sem que o calcanhar se afaste da base.

ARCO PLANTAR E TORNOZELO

Hoje em dia, está muito difundido o uso de elementos convexos, situados na planta ou palmilha do sapato, destinados a proporcionar apoio ao arco longitudinal interno do pé. No entanto, os sapatos que incorporam esta peça, fácil de identificar no seu interior, devem escolher-se com cuidado, em função da utilização que se lhes vai dar. As pessoas que tenham de permanecer muito tempo de pé são beneficiadas por estes elementos convexos, ao ser maior a superfície de apoio, o que reduz a fadiga muscular; no entanto, dado que este componente limita a descida natural do arco plantar durante a marcha, a estabilidade e a eficácia do passo podem ver-se diminuídas.

Forma de andar

Ainda que o recomendável seja ir a um especialista em Ortopedia, para detetar possíveis alterações, também é eficaz a simples observação, com o objetivo de conhecer alguns detalhes, no momento de selecionar um calçado que se ajuste bem a uma determinada forma de andar. O normal é que, ao andar, a direção para onde os pés apontam não coincida com a linha de progressão seguida pelo corpo, formando com ela um ângulo de cerca de 15 graus.

Geralmente, quanto mais coincidentes forem essas duas linhas, mais peso se suportará sobre a parte exterior do pé e o calçado tenderá a deformar-se no bordo exterior.

Mas nem todas as pessoas dispõem de um correto alinhamento dos ossos da perna e do pé. As consequências prejudiciais sobre os músculos e articulações, derivadas de um mau alinhamento, podem agravar-se com o uso contínuo de um calçado inadequado.

Amortecer o impacto

O impacto que se produz entre o pé e o solo, em cada passo, é maior à medida que se caminha mais rápido ou se corre. Estudos biomecânicos demonstraram que a intensidade destes impactos, ao andar, equivale ao peso do corpo, enquanto que, ao correr, chegam a alcançar níveis superiores a duas ou três vezes este peso. Também se constatou um aumento da intensidade quando se caminha ou se corre sobre pavimentos duros, como o asfalto, intensidade essa que se suaviza quando se o faz sobre superfícies naturais, como a madeira, a erva ou a areia.

Pode afirmar-se, por conseguinte, que o amortecimento ou redução dos impactos é um critério geral, no que se refere ao desenho e, desse modo, à seleção do calçado. No entanto, a importância relativa deste aspeto depende da utilização e das características do calçado, bem como dos utilizadores a quem aquele está destinado. Desta forma, quando se trata de sapatos para correr, o amortecimento tem uma especial importância, devido à magnitude e ao grande número de impactos que a cadeia esquelética tem de suportar no decurso de treinos e competições. O amortecimento do impacto da passada sobre o solo reveste-se, igualmente, de grande importância quando se trata das pessoas adultas que vivem num meio urbano.

Além das propriedades mecânicas dos ossos, a ação dos músculos e o correto movimento das articulações são mecanismos de amortecimento naturais, cujo contributo é fundamental para defender o nosso organismo dos impactos. Neste sentido, as pessoas sedentárias, cuja musculatura não se encontra em condições de exercer adequadamente a sua função, e aqueles cujas articulações tenham, por alguma razão, os seus movimentos limitados, diminuiriam o risco de sofrer de perturbações articulares se escolhessem sapatos com um adequado amortecimento.

Sapatos de salto alto

No calçado de salto alto, o deslizar do pé para a frente, provocado pela inclinação, constitui um fator que, associado à estreiteza da biqueira, contribui para a deformação dos dedos. Este efeito pode evitar-se selecionando um calçado que disponha de uma concavidade na sua planta que permita alojar o calcanhar. E, se existe alguma parte do pé que deve ficar ajustada dentro do sapato, ela é, precisamente, a zona do calcanhar. Além de melhorar a capacidade do pé calçado para amortecer as cargas derivadas do choque com o solo, este recurso resulta muito conveniente para todos os sapatos que tenham um salto de altura superior a 2 centímetros.

Calçado Desportivo

Se se tem a tendência para deformar o calçado de uso diário, deve ser-se extremamente cuidadoso ao escolher-se sapatos de desporto. Fatores como a velocidade dos deslizamentos ou a fadiga muscular podem dar origem a lesões, se o calçado não ajuda a controlar os desvios para fora ou para dentro das articulações do tornozelo e da rótula.

Deste modo, no calçado destinado a corridas de longa distância, prevenir a excessiva tendência do tornozelo de deslocar-se para dentro constitui, juntamente com as características de amortecimento, um dos principais requisitos de desenho das sapatilhas, de modo a evitar lesões.

Uma série de estudos já realizados, utilizando técnicas de cinematografia de alta velocidade, demonstraram que o referido movimento de deslocação do tornozelo para dentro é afetado tanto pelas características do material da sola como pelos elementos que estão incluídos no material que reveste o sapato.

Demonstrou-se que solas demasiado moles favorecem a aparição de um movimento excessivo do tipo descrito e que alguns elementos da constituição da sapatilha – por exemplo, contrafortes, apoios laterais, tirantes e o próprio atacador – contribuem para o controlar, de modo eficaz.

Não existem dois pés iguais: a idade, o sexo, a raça e a atividade física que os pés têm de suportar são fatores que tornam difícil estabelecer modelos de calçado normalizados.

Se se tem a tendência para deformar o calçado de uso diário, deve ser-se extremamente cuidadoso ao escolher-se sapatos de desporto

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