E-NEWSAÚDE #14

Maio | Junho 2018

SAÚDE PREVENÇÃO

DOENÇAS EXANTEMÁTICAS - Sarampo e outras “velhas” ameaças

Saúde Prevenção 15 artigo

O SURTO DE SARAMPO QUE ALASTROU RECENTE NO NOSSO PAÍS VEIO COLOCAR NA ORDEM DO DIA A NECESSIDADE IMPERIOSA DE RESPEITAR OS PROGRAMAS DE VACINAÇÃO, POR FORMA A MANTER AFASTADAS ESTA E OUTRAS DOENÇAS EXANTEMÁTICAS QUE SE JULGAVAM ERRADICADAS.

As doenças exantemáticas são doenças agudas infecciosas cujas manifestações cutâneas são essenciais para o diagnóstico. Isto é, só a expressão cutânea das doenças possibilita a identificação da doença. Todas estas doenças têm um período prodrómico, ou seja, as crianças adoecem e transmitem a doença antes de surgirem as características típicas do exantema. Embora algumas destas doenças se possam manifestar noutras idades, elas afetam essencialmente as crianças.

SARAMPO

O sarampo é uma doença de origem viral, muito contagiosa, cuja incidência diminuiu drasticamente, ou foi mesmo erradicada, nos países desenvolvidos, desde que se efetua a vacinação infantil universal. No entanto, a existência de bolsas da população que recusam vacinar os filhos, devido a uma postura conservadora, bem como os fluxos migratórios, fazem surgir ciclicamente, por todo o mundo, surtos epidémicos desta doença, ainda que breves.
Em Portugal, a vacina contra o sarampo está incluída numa vacina combinada contendo vírus atenuados do sarampo, da parotidite epidémica (papeira) e da rubéola, a chamada vacina tríplice ou VASPR. A primeira dose é administrada, geralmente, aos 12 meses, com um reforço aos 5 anos de idade.
Esta doença, aparentemente benigna, foi responsável, no passado, por uma mortalidade infantil considerável e deixou sequelas neurológicas terríveis em muitas crianças. O sarampo é, pois, um excelente exemplo dos benefícios que a vacinação universal pode trazer para a saúde infantil.

RUBEOLA

A rubéola é outra das doenças exantemáticas que praticamente está erradicada dos países onde se procede à vacinação infantil sistemática. As suas consequências mais temíveis relacionam-se com o aparecimento da doença na mulher grávida, em particular durante o 1º trimestre de gestação, a qual pode causar malformações graves ou morte do feto. Na criança, sempre foi uma doença benigna, com febre baixa, exantema de predomínio no tronco pouco exuberante e cuja característica particular é a presença de adenomegálias (gânglios) palpáveis na região occipital junto à raiz dos cabelos.
As mulheres em idade fértil, que não tiveram rubéola e que não foram vacinadas, devem ser vacinadas antes de engravidarem.

VARICELA

Das doenças exantemáticas, a varicela é a mais contagiosa e talvez a mais frequente, que tem a particularidade de dar imunidade perene. Contudo, pode haver reativação do vírus no ser humano, a qual ocasiona lesões cutâneas de herpes zoster, a chamada zona.
É mais frequente nas crianças dos 2 aos 9 anos de idade. Após um período de incubação de uma a três semanas, a doença começa a manifestar-se através de febre, ou febrícula, perda de apetite, a que se segue, ao fim de um a três dias, a erupção de pequenas manchas vermelhas muito pruriginosas, que revestem toda a superfície do corpo e que, ao fim de algumas horas, se convertem em vesículas repletas de um líquido amarelado. Uma das principais características da varicela é as borbulhas atingirem o couro cabeludo e a zona genital. Em cerca de cinco a sete dias, as vesículas rebentam e o líquido nelas presente seca, formando crostas. Quando as lesões estão todas em fase de crosta, a criança já não está contagiosa, podendo regressar à escola

ERITEMA INFECCIOSO

Esta patologia é provocada por um vírus que se transmite de forma direta por via aérea e que afeta, sobretudo, as crianças de idades compreendidas entre os 5 e os 14 anos.
Caracteristicamente, não é detetada febre nem quebra do estado geral. A doença inicia-se com uma erupção cutânea que se evidencia nas bochechas, através da formação de manchas avermelhas. Cerca de 24 horas após surgir a erupção facial, há extensão das lesões a outras zonas do corpo, em particular, à porção proximal dos membros, braços e coxas. O eritema da face regride em um a quatro dias, mas as restantes lesões podem permanecer visíveis entre cinco a 20 dias, registando-se períodos de exacerbação após o banho ou a exposição solar.

EXANTEMA SÚBITO

O exantema súbito também é provocado por um vírus. É a doença exantemática mais frequente antes dos 2 anos de idade. Durante três a cinco dias, a criança tem apenas febre elevada (39°C a 40°C) e corrimento nasal. Ao fim deste tempo, a febre regride e evidencia-se a erupção de pequenas manchas eritematosas no tronco, região peitoral e dorsal. A erupção desaparece ao fim de um ou dois dias. O exantema súbito é uma doença febril benigna, contudo, pode ser motivo de várias consultas, pois num bebé, febre alta e alguma prostração são razão de preocupação. Por outro lado, a febre alta neste grupo etário pode coincidir com uma convulsão febril.

ENTEROVIROSES

O grupo de vírus da família dos enterovírus é responsável pelos exantemas mais comuns nos meses de verão. A maioria das crianças doentes apresenta quadros exantemáticos inespecíficos, podendo ter manchas planas avermelhadas, pápulas ou manchas parecidas com as da escarlatina ou da rubéola. Ocasionalmente, ocorrem síndromas clínicas mais características, como a síndroma mão-pé-boca, assim chamado por existirem lesões nas mãos, pés e boca; ou a herpangina, caracterizada por pequenas vesículas na boca, em concreto no palato. Para além das manifestações cutâneas, podem coexistir queixas respiratórias e/ou intestinais.
Perante estes quadros exantemáticos menos típicos, os pediatras informam os pais de que se trata de uma virose. É nestas ocasiões que os pais pensam que os médicos não sabem o que os seus filhos têm, quando na verdade sabem que estão perante este grupo de doenças, embora não identifiquem o nome do vírus. Esta identificação só é possível por análises mais demoradas que não acrescentam nada ao tratamento da doença, que é apenas sintomático.

ESCARLATINA

A escarlatina é uma doença infecciosa bacteriana, provocada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Após um período de incubação de três a cinco dias, a doença manifesta-se através do aparecimento de febre alta, que persiste três a cinco dias, vómitos e odinofagia. A língua tem inicialmente um aspeto saburroso, adquirindo posteriormente o aspeto típico de língua cor de framboesa. Na face, a região malar está eritematosa, avermelhada, contrastando com a palidez da região peribucal, a qual não é atingida. Dois a três dias depois do início da febre, surge a erupção de inúmeros pequenos pontos ligeiramente salientes, punctiformes, rosados, que depois adotam uma cor vermelha viva, confluentes e que dão à pele uma consistência áspera, tipo lixa, característica da doença. Estas lesões cutâneas localizam-se mais no pescoço, tronco, axilas e região inferior do abdómen. Ao fim de cerca de uma semana, a pela atingida pode descamar. A escarlatina cursa obrigatoriamente com faringite ou amigdalite pultácea, diagnosticada em simultâneo com o exantema. Antigamente, a doença nem sempre era tratada com antibiótico apropriado, podendo ter como consequência o aparecimento de febre reumática.

FEBRE ESCARONODULAR

Esta doença, também denominada “febre da carraça”, é típica dos meses quentes nos países mediterrânicos. O agente etiológico tem o seu reservatório na carraça do cão. Portanto, se uma pessoa, criança ou adulto, for picada por uma carraça infetada que estava alojada no cão, pode adoecer. Todavia, convém especificar que a maioria das carraças não está infetada.
Após um período de incubação de uma semana, a doença começa a manifestar-se por febre alta, cefaleias, mialgias e prostração com uma duração de quatro a cinco dias. Este período de doença é em tudo igual a uma síndroma gripal. Posteriormente, surge o exantema maculopapular e nodular, que se inicia nos membros inferiores, não poupando nem palma das mãos, nem planta dos pés. Para o diagnóstico, deve procurar-se o local de picada da carraça, uma ferida redonda com uma crosta preta, mais comummente localizada no couro cabeludo, cintura ou nádegas, a chamada “tâche noire”, da literatura francesa. Esta doença tem de ser tratada com antibiótico.

A existência de bolsas da população que recusam vacinar os filhos, devido a uma postura conservadora, bem como os fluxos migratórios, fazem surgir ciclicamente, por todo o mundo, surtos epidémicos de sarampo.

As doenças exantemáticas são doenças agudas infecciosas cujas manifestações cutâneas são essenciais para o diagnóstico

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