O PNEUMOTÓRAX NÃO É MAIS DO QUE A PRESENÇA DE AR NA CAVIDADE PLEURAL: PODE NÃO APRESENTAR SINTOMAS OU, PELO CONTRÁRIO, PROVOCAR INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA.
A presença de ar na cavidade pleural, não provocada com fins terapêuticos, determina uma situação patológica que, em certos casos, é totalmente assintomática, enquanto noutros pode manifestar-se através de uma sintomatologia tão aparatosa que alguns lhe dão o nome de drama pulmonar.
A cavidade pleural é uma cavidade virtual, pois em condições normais os folhetos pleurais estão muitos próximos entre si, separados apenas pelo líquido pleural.
Diz-se que o sistema torácico-pulmonar está submetido a forças opostas entre si: o pulmão tende a retrair-se e a caixa torácica a expandir-se. Quando se introduz ar entre os dois folhetos pleurais, rompe-se este equilíbrio e, então, a cavidade pleural deixa de ser virtual e passa a ser real, devido à retração pulmonar e à expansão da caixa torácica.
Dentro do pneumotórax espontâneo, podem distinguir-se três formas:
A penetração de ar entre os folhetos pleurais pode produzir-se segundo diferentes modalidades:
É a forma mais frequente. Antigamente, era sempre considerada de natureza tuberculosa, mas atualmente pensa-se que a tuberculose desempenha apenas um papel indireto, na medida em que os alvéolos que se rompem são os afetados no passado por processos tuberculosos de pouca importância, mas curados há algum tempo, com formação de processos escleróticos conjuntivos e de bolhas enfisematosas. Em última análise, o processo tuberculoso curado conduz à formação de vesículas enfisematosas subpleurais que, ao romperem-se, permitem a penetração de ar na cavidade pleural. Geralmente, estas vesículas localizam-se nas regiões apicais e o seu volume pode atingir mesmo o de uma noz. No bronquíolo respiratório pode desenvolver-se um mecanismo valvular que permite a penetração de ar nas vesículas durante a inspiração e não a sua saída na expiração, de tal modo que estas sofrem, primeiro, uma sobre¬distensão, depois, um adelgaçamento da parede e, finalmente, a rutura.
À parte do processo tuberculoso, podem intervir na formação do tecido esclerótico todos os demais processos inflamatórios, como os pneumocócicos, entre outros.
Por outro lado, também se pretendeu explicar a origem do pneumotórax espontâneo sugerindo a existência de um fator congénito, sobretudo nos recém-nascidos e nas crianças, entendido como uma alteração do desenvolvimento devido à qual algumas zonas do pulmão e da pleura seriam constitucionalmente menos resistentes.
Em geral, o processo patológico afeta os jovens de idades compreendidas entre 20 e 30 anos e, por esta razão, a referida forma de pneumotórax recebe o nome de pneumotórax dos recrutas.
Juntamente com o fator anatomopatológico representado pela presença de vesículas enfisematosas, costumam registar-se causas ocasionais que conduzem à rutura destas borbulhas: esforço físico, emoções, acessos de tosse, contusões torácicas ligeiras, entre outras.
Em função da extensão do colapso pulmonar, podem distinguir-se duas formas de pneumotórax: uma total, em que o ar enche toda a cavidade pleural, determinando uma separação regular das duas pleuras entre si; e outra em saco, em que o ar se acumula só numa parte da cavidade, limitada pela presença de aderências pleurais. Esta circunstância é muito rara no pneumotórax idiopático, na medida em que é difícil que as pessoas tenham sofrido anteriormente doenças pleuropulmonares de certa gravidade.
O ar que penetra na cavidade pleural determina a retração do pulmão, que geralmente fica retraído em volta do hilo pulmonar; se a quantidade de ar for muito grande, pode-se produzir um autêntico colapso pulmonar, aparecendo, então, o pulmão fundido com o mediastino, o qual, por sua vez, pode encontrar-se deslocado para o lado contrário.
Se se considerar o comportamento da pressão na cavidade pleural, podem distinguir-se as seguintes formas de pneumotórax:
A rutura das bolhas pulmonares e da pleura visceral conduz à formação de um derrame intrapleural hemático. Quando esse derrame já é de certa envergadura, fala¬se de hemopneumotórax espontâneo, que pode ser extremamente grave.
Observou-se que o pneumotórax pode manifestar-se em repouso ou devido a um esforço, mesmo pequeno. Geralmente, o que denuncia a sua presença é uma dor aguda e violenta num hemitórax e o aparecimento de dificuldade respiratória.
No entanto, em certos casos, não há qualquer sintomatologia, falando-se, então, de pneumotórax mudo ou latente.
Noutros casos, pelo contrário, os sintomas da insuficiência respiratória aguda são evidentes: o doente manifesta dispneia, cianose e agitação, pelo menos, nas fases iniciais; em seguida, entra num estado comatoso.
O estudo radiológico é indispensável para o diagnóstico: permite observar o desaparecimento da estrutura pulmonar normal que corresponde à acumulação de ar e visualizar o bordo do pulmão colapsado empurrado, muitas vezes, para o lado oposto. Nalguns casos, a radiografia revela a existência das bolhas de gás que deram origem a fístula pleuropulmonar.
Regra geral, o pneumotórax idiopático cura-se sem necessidade de recorrer a uma terapêutica específica, com exceção do repouso absoluto. Contudo, nunca deve ser esquecida a possibilidade de uma cronificação do processo, especialmente nas formas de pneumotórax aberto ou valvular. As recidivas ocorrem em 10% a 20% dos casos. Isso explica-se tendo em conta que as bolhas sub¬pleurais são, geralmente, numerosas, em cacho e bilaterais. Um mesmo indivíduo pode sofrer várias recidivas: chegaram a descrever-se 20 recidivas, que podem afetar sempre o mesmo lado – pneumotórax recidivante unilateral – ou, alternadamente, ambos os lados – pneumotórax recidivante alternante.