E-NEWSAÚDE #5

Novembro | Dezembro 2016

Saúde e Gravidez

Gestação de risco

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NÃO HÁ GRAVIDEZES ISENTAS DE RISCO, MAS HÁ UNS ANOS, CERTAS DOENÇAS MATERNAS TORNAVAM QUASE IMPOSSÍVEL O ÊXITO DA GESTAÇÃO. HOJE, GRAÇAS AOS AVANÇOS DA MEDICINA, A GRANDE MAIORIA DAS CHAMADAS GESTAÇÕES DE RISCO TEM UM FINAL FELIZ.

Doenças maternas – como asma, diabetes, hipertensão ou cardiopatias –, gravidez gemelar, idade avançada, complicações em gestações anteriores, etc., são circunstâncias que, salvo nos casos extremos, já não colocam a gravidez em risco, desde que se minimizem os seus efeitos no decurso da gestação. Atualmente, graças aos avanços da Medicina, é possível ser mãe apesar dessas perturbações, contando que a vigilância seja rigorosa e se inicie o mais cedo possível. Muito especialmente no caso das doenças crónicas, o aconselhamento médico deve começar logo que o casal decide embarcar nesta aventura.

GRAVIDEZ GEMELAR

Se espera gémeos, notará mais cedo os sintomas da gravidez: as náuseas, os enjoos e as idas frequentes à casa de banho, características dos primeiros meses, são ainda mais intensos, devido ao facto de circular no sangue uma maior quantidade da hormona gonadotropina coriónica.
Nos meses seguintes, deverá ter alguns cuidados extras: aumenta a probabilidade de se produzirem contrações no 5º ou 6º mês, pelo que deverá baixar o ritmo de vida e descansar mais. A dieta é uma parte importante desses cuidados. Uma grávida de gémeos necessita de ingerir diariamente mais 300 calorias do que antes da gravidez.
As probabilidades de surgirem complicações são maiores, quando se espera mais do que um bebé. Por esta razão, a sua gravidez classificar-se-á como “de risco” e os controlos serão mais exaustivos. Por exemplo: a consultas serão mais frequentes – de 15 em 15 dias, em vez de uma vez por mês –, sobretudo a partir do 6º mês; e quando completar a 32ª semana, irá semanalmente, para efetuar um registo cardiotocográfico.
Lembre-se que, embora esteja longe de acontecer sempre, os riscos de aborto, de atraso no crescimento fetal e de parto prematuro são mais frequentes do que nas gravidezes comuns. Porém, todos estes riscos são fáceis de detetar e de tratar, com um controlo adequado.
O terceiro trimestre, difícil em qualquer gravidez, vai ser especialmente fatigante. O médico recomendar-lhe-á que repouse uma a duas horas depois das refeições, deitada sobre o lado esquerdo: deste modo, previne-se a aparição de edemas, problemas circulatórios e contrações demasiado precoces.
É muito importante que permaneça tranquila, pois o objetivo é tentar que o parto tenha lugar o mais próximo possível da 40ª semana. Embora numa percentagem elevada de casos, seja preciso realizar uma cesariana, é possível que os bebés nasçam por via vaginal. O período de expulsão será um pouco mais longo, mas não mais difícil: como cada um pesará menos, não será tão difícil atravessar o canal de parto.

DIABETES

A gravidez é uma situação crítica relativamente à utilização da glucose: as exigências energéticas elevam-se, para conseguir atender às necessidades do feto e manter o aumento de peso. A prolactina, os estrogénios, a progesterona e outras hormonas segregadas em maior quantidade, durante estes meses, são diabetogenas, isto é, permitem, através de diversos mecanismos, que haja mais glucose a circular no sangue materno, como fim de que exista sempre uma quantidade suficiente para ser utilizada pelo feto, cujas necessidades são muito elevadas. Para que os níveis de glucose no sangue não disparem, o organismo necessita de segregar maior quantidade de insulina, a hormona encarregue de manter essa glucose controlada. Nem todas as grávidas conseguem compensar esta situação de forma adequada: se a secreção de insulina for insuficiente, a glicemia dispara, com o consequente risco de complicações.
Se a mulher já era diabética antes da gravidez, o controlo da glicemia deverá ser muito rigoroso, mas contrariamente ao que sucedia há uns anos, na maioria dos casos, tudo decorrerá com normalidade.
A incidência da diabetes gestacional situa-se, atualmente, segundo diversos trabalhos, à volta dos 10 a 16% das gravidezes e, entre os principais fatores de risco, destacam-se, por esta ordem, a idade superior a 35 anos, o excesso de peso e os antecedentes familiares de diabetes.
A diabetes mal controlada durante a gravidez conduz a um maior risco de hipertensão arterial, excesso de líquido amniótico, infeções maternas – sobretudo as que afetam o trato urinário –, aborto, sofrimento fetal ou crescimento excessivo deste, bem como a uma maior frequência de complicações a longo prazo, tanto na mulher – que terá maiores probabilidades de ser diabética no futuro – como na criança.
Para evitar estas complicações, o seguimento por parte do obstetra será mais frequente e totalmente individualizado. O especialista estabelecerá uma dieta especial, que a grávida deverá seguir à letra, e recomendará a prática moderada de exercício físico – que facilita a utilização da glucose –, evitando sempre o cansaço. Se estas medidas não forem suficientes para controlar a glicemia, recorre-se à insulina.
Uma vez que a grávida estará vigiada, o parto será imediatamente induzido assim que se detete o mínimo sofrimento fetal. O bebé permanecerá em observação após o nascimento, pois é necessário ter a certeza de que se encontra em perfeito estado de saúde

HIPERTENSÃO ARTERIAL

A consulta pré-gestacional é indispensável no caso de mulheres hipertensas, embora seja frequente a mulher só descobrir que sofre de hipertensão nas primeiras consultas obstétricas.
Existem quatro formas de hipertensão, que podem estar presentes na gravidez:

  • A hipertensão crónica, prévia à gestação e, portanto, não relacionada com esta;
  • A pré-eclampsia, um tipo de hipertensão que é acompanhada de outros sintomas, como edema, dor de cabeça, vómitos, afetação do rim e do sistema nervoso, entre outros;
  • Por vezes, ambas as situações ocorrem juntas: isto é, a hipertensão de base complica-se na gravidez, com uma pré-eclampsia;
  • Por último, algumas mulheres sofrem uma hipertensão arterial transitória, no último trimestre.
A segunda e terceira situações são as mais graves: a pré-eclampsia é a causa mais habitual de desprendimento prematuro da placenta, bem como de crescimento intrauterino retardado, parto prematuro e mortalidade perinatal.
Em cada consulta, o obstetra medirá a tensão arterial e recomendará algumas medidas: por exemplo, não tomar café ou consumi-lo de forma moderada, vigiar o aumento excessivo de peso e, se o considerar necessário, recomendar repouso. Poucos medicamentos para o controlo da tensão arterial são seguros durante a gravidez e são estes que se utilizam, em caso de necessidade.
Em geral, a hipertensão arterial é fácil de controlar, se não se complicar com uma pré-eclampsia; portanto, o objetivo é evitar que tal aconteça. A pré-eclampsia é uma situação de elevado risco para a mãe e para o feto. Se surgir, será preciso induzir o parto, antes que a gravidez chegue ao fim.

DOENÇA CARDÍACA

As mães com doenças cardíacas necessitam de um controlo muito apertado, que deve começar na consulta pré-gestacional, com o importantíssimo objetivo de minimizar os riscos. Na verdade, estes são muito elevados em determinadas cardiopatias, em cujos casos é necessário avaliar, cuidadosamente, a decisão de ter um filho. É preciso ter em conta que, infelizmente, algumas cardiopatias são incompatíveis com a gravidez.
A gestação agrava as doenças cardíacas: as alterações hormonais, o maior volume de sangue circulante, o aumento do tamanho do útero e a elevação do gasto cardíaco fazem com que o sistema circulatório fique sobrecarregado e, consequentemente, que o coração trabalhe a pleno rendimento. Além disso, estas alterações iniciam-se numa fase muito precoce da gravidez, embora se tornem cada vez mais evidentes à medida que esta decorre, para adquirirem a sua máxima expressão no terceiro trimestre.
Todos aqueles aspetos podem aumentar o risco de complicações: parto prematuro, atraso do crescimento intrauterino ou sofrimento fetal. Não obstante, na maioria dos casos – se não forem cardiopatias complexas – este risco pode controlar-se, com um acompanhamento médico rigoroso.
Embora não exista razão para que o parto não decorra com inteira normalidade, pode ser necessário ficar internada, desde uns dias antes. Estes partos costumam realizar-se sob anestesia, com o objetivo de diminuir a ansiedade da mãe, a qual poderia transformar-se num problema importante. Também é aconselhável não prolongar o período de expulsão, para evitar um esforço excessivo.

Outras situações de risco

  • ASMA – Se é asmática, deve saber que a gravidez pode alterar o curso da doença, para melhor ou para pior, com probabilidades iguais: de acordo com os estudos, a situação piora num terço das grávidas, melhora noutro terço e permanece inalterada no terço restante. No primeiro caso, os sintomas costumam agravar-se no 6º mês e melhorar a partir do 3º trimestre. O risco mais importante para o feto é o fornecimento insuficiente de oxigénio, que terá como consequência um baixo peso à nascença, crescimento intrauterino retardado ou parto prematuro. No entanto, estas complicações apenas surgem se a asma estiver mal controlada e as crises forem frequentes. Um controlo adequado é, pois, imprescindível.
  • EPILEPSIA – Uma epilepsia mal controlada é mais prejudicial para a mãe e o feto do que os possíveis efeitos da medicação. A consulta pré-gestacional é indispensável, pois o especialista vai avaliar a situação e realizar os ajustes necessários ao tratamento, escolhendo os fármacos adequados, com as doses mais eficazes para a mãe e seguras para o feto.
  • INCOMPATIBILIDADE RH – Não há problemas na primeira gravidez, mas a segunda passa a ser de risco quando a mãe é Rh negativo e o feto Rh positivo. Se o primeiro filho também foi Rh positivo, a mulher criou, então, anticorpos, que atuam, agora, atravessando a placenta para chegarem até ao feto e destruírem os seus glóbulos vermelhos. Este “ataque” produz uma grave anemia, que é possível prevenir através do chamado teste de Coombs. Trata-se de uma análise ao sangue, que se efetua em todas as grávidas Rh negativo, para detetar ou despistar a presença destes anticorpos: se o resultado for positivo, administra-se imunoglobulina anti-D, na 28ª semana de gestação e uma segunda dose, até 72 horas após o parto.
  • MAIS DE 35 ANOS – A partir dos 35 anos, aumenta o risco de malformações congénitas, anomalias cromossómicas e complicações, como a hipertensão, a diabetes e a hipercolesterolemia, bem como de outros problemas associados à gravidez: crescimento intrauterino retardado ou placenta prévia.
  • Todos estes motivos são suficientes para vigiar de perto estas gravidezes e praticar mais controlos do que os habituais, incluindo as técnicas de deteção de malformações congénitas. Porém, uma gravidez “tardia” não significa que os próximos nove meses sejam mais difíceis do que se tivesse decidido ser mãe uns anos antes: uma dieta adequada e a prática moderada de exercício físico conseguirão, juntamente com a vigilância rigorosa por parte do médico, que esta aventura tenha um final feliz.

 

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