E-NEWSAÚDE #7

Março | Abril 2017

SAÚDE PREVENÇÃO

Aterosclerose
Terrível inimigo

prevencao 8 artigo

A ATEROSCLEROSE É RESPONSÁVEL POR QUASE TODOS OS CASOS DE ENFARTE DO MIOCÁRDIO, TROMBOSE E HEMORRAGIA CEREBRAL. NO ENTANTO, POUCAS PESSOAS SABEM, EXATAMENTE, DE QUE SE TRATA. NESTE ARTIGO, IREMOS CONHECER UM POUCO MELHOR A ATEROSCLEROSE, UMA BONITA PALAVRA PARA DESIGNAR UM TERRÍVEL INIMIGO.

Tratar exaustivamente, em poucas páginas, o tema da aterosclerose não é tarefa fácil. O número de estudos realizados sobre a matéria é incalculável e, apesar disso, o miolo da questão continua a ser uma incógnita. Nem sequer se definiu exatamente a terminologia que se deve usar, pois não é ainda muito claro qual é a diferença entre arteriosclerose e aterosclerose, já que estes termos são utilizados com igual significado por diferentes autores. Para uns, os dois termos são sinónimos, enquanto outros consideram que possuem significados diferentes. Literalmente, arteriosclerose significa esclerose das artérias; a aterosclerose corresponde à alteração, numa zona circunscrita, da parede arterial e endurecimento da mesma.
No presente artigo, optou-se por seguir a terminologia utilizada geralmente na prática médica, isto é, o termo aterosclerose, atribuindo-lhe todas as patologias.

O QUE É, AFINAL, A ATEROSCLEROSE?

A aterosclerose é responsável por quase todos os casos de enfarte do miocárdio, trombose e hemorragia cerebral, bem como de uma boa parte das gangrenas dos membros inferiores. Salvo as manifestações repentinas e claras, a aterosclerose não apresenta sintomas que a caracterizem de forma concreta. As alterações que as artérias sofrem podem resumir-se da seguinte maneira: endurecimento das suas paredes, em consequência da destruição e substituição do tecido elástico, que normalmente as constitui – e que permite que as artérias variem de dimensão segundo as necessidades, regulando assim a quantidade de sangue que por elas passa –, por tecido fibroso, muito mais rígido; formação de placas – compostas por colesterol, células musculares, tecido fibroso, rolhões de plaquetas e, por vezes, cálcio –, que recebem o nome de placas ateroscleróticas; e, por fim, como consequência dos fenómenos anteriores e, sobretudo, do segundo, redução do calibre do vaso, com a consequente diminuição do caudal de sangue capaz de passar por ele.
A aterosclerose é uma doença das artérias – não atinge as veias –, pois está relacionada com a elevada pressão e turbulência do sangue circulante. Por esta razão, as referidas placas tendem a desenvolver-se nas zonas onde o fluxo de sangue é mais intenso e turbulento. As artérias mais atingidas são a aorta e as artérias diretamente relacionadas com ela: coronárias, carótidas, renais, ilíacas, femurais, etc.. Sabe-se que a formação de placas ateroscleróticas é mais frequente nas pessoas com níveis elevados de colesterol no sangue. Sabe-se, igualmente, que o número e a espessura das placas aumentam com a idade, comprometendo as funções do endotélio vascular e criando condições favoráveis à formação coágulos de sangue, designados por trombos. Por vezes, um fragmento de trombo desprende-se e dá origem a um êmbolo, pois esses fragmentos são lançados na corrente sanguínea, até irem ocluir totalmente vasos de calibre mais estreito.

CAUSAS E FATORES DE RISCO

É óbvio que, se as causas primeiras da aterosclerose fossem conhecidas, a doença já não representaria um problema. Pelo contrário, ela é um problema e bem grave. Apesar dos inúmeros estudos realizados a este respeito, ainda se navega na obscuridade. Isto deve-se, em parte, às dificuldades do seu diagnóstico, dada a escassez de sintomas que apresenta, para além dos acidentes agudos.
Os únicos dados que podem ser tomados em consideração são os que derivam do estudo dos indivíduos afetados por enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral ou gangrena das extremidades inferiores.
Neste contexto, ganham relevância os fatores de risco, isto é, os fatores perniciosos que podem facilitar e tornar mais rápido o desenvolvimento da aterosclerose e que precedem, em muitos anos, o aparecimento da doença vascular. Entre esses fatores, incluem-se o hábito tabágico, a diabetes mellitus, a hipertensão arterial, o pertencer ao sexo masculino, a obesidade, a vida sedentária, o colesterol elevado, a gota, antecedentes familiares de doenças arteriais e, possivelmente, a existência de uma personalidade ansiosa ou agressiva.
O risco de aterosclerose aumenta também com a idade, provavelmente devido ao tempo que as placas levam a formar-se. A influência do sexo torna-se evidente quando comparamos os homens e as mulheres antes da menopausa. No grupo etário dos 35 aos 44 anos, a doença cardíaca coronária mata seis vezes mais homens do que mulheres.

COMO SE MANIFESTA

As doenças provocadas pela aterosclerose variam de amplitude e gravidade, em função da localização das artérias lesadas. Contudo, é importante ter em conta que podem ser atingidas, simultaneamente, artérias de várias partes do corpo.
QUANDO A LOCALIZAÇÃO É CEREBRAL, podem aparecer alterações da visão e da articulação da fala, perda progressiva da memória, ausências momentâneas, desorientação no tempo e no espaço, claudicação repentina e transitória da força muscular nos membros ou da sensibilidade cutânea aos estímulos externos; por fim, a aterosclerose das artérias que irrigam o cérebro constituem uma importante causa de acidentes vasculares cerebrais, conhecidos em linguagem comum por tromboses.
QUANDO A LOCALIZAÇÃO É CARDÍACA, pode instaurar-se uma progressiva insuficiência da capacidade de contração do músculo cardíaco, oxigenado de forma insuficiente devido à escassa quantidade de sangue que lhe chega – insuficiência cardíaca; podem surgir alterações no ritmo das contrações cardíacas – arritmias; se à lesão anatómica das coronárias se somarem reflexos que causem espasmos, aparecem dores de tipo anginoso – angina de peito; por último, pode sobrevir um enfarte do miocárdio.
SE OS VASOS ATINGIDOS PELA ATEROSCLEROSE FORAM OS QUE IRRIGAM AS EXTREMIDADES INFERIORES – ilíacas, femurais, popliteias, etc. –, podem aparecer cãibras durante a marcha, engrossamento e escurecimento da pele, diminuição da temperatura cutânea das extremidades e, com a passagem do tempo, gangrena. A disfunção erétil também pode ser consequência deste tipo de aterosclerose.
QUANDO A DOENÇA ATEROSCLERÓTICA SE LOCALIZA NAS ARTÉRIAS RENAIS, as consequências podem ser a hipertensão ou uma grave alteração do funcionamento renal – insuficiência renal.
Um caso particular, relativamente comum, é o da aterosclerose da artéria aorta, que pode enfraquecer a sua parede e levar à formação do chamado aneurisma da aorta.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

A história clínica e o exame médico poderão fornecer informação substancial acerca do estado da circulação, podendo, no entanto, ser necessário recorrer a exames complementares de diagnóstico. O fluxo de sangue no interior de uma artéria pode ser visualizado através de uma angiografia ou por exames não-invasivos, como sucede com a medição dos fluxos sanguíneos por doppler ou, ainda, pela pletismografia, em que se obtém um registo do padrão dos pulsos periféricos. O tratamento estritamente médico-medicamentoso é, muitas vezes, insuficiente a partir do momento em que já exista uma lesão. Têm sido usados anticoagulantes para minimizar os coágulos secundários e a formação de êmbolos, mas estes medicamentos pouca ou nenhuma eficácia têm sobre a progressão da doença. Por sua vez, os vasodilatadores são úteis para aliviar os sintomas, mas não têm valor curativo.
A intervenção cirúrgica é ponderada sempre que os doentes não respondam ao tratamento médico ou quando se trata de uma situação de alto risco. Deste modo, a angioplastia por balão pode remover as estenoses arteriais e garantir um aporte suficiente de sangue. A vascularização do músculo cardíaco pode ser obtida por meio de “by-pass” aortocoronário de um segmento venoso. Por fim, a endarterectomia significa a remoção cirúrgica das placas ateromatosas e das calcificações dos endotélios arteriais. A colocação de próteses vasculares de material sintético pode substituir secções inteiras de artérias periféricas.

PREVENÇÃO: AINDA E SEMPRE

A eliminação dos fatores de risco pode restringir a probabilidade da aterosclerose se manifestar ou, pelo menos, adiar as suas incidências. Por outras palavras: a prevenção é – como na grande maioria dos problemas de saúde – o melhor remédio. Os hábitos tabágicos devem ser abandonados, a tensão arterial controlada regularmente e a hipertensão corretamente medicada. A dieta tem de conter poucas gorduras saturadas e deve evitar-se a obesidade. Caso os níveis de colesterol se mantenham elevados, apesar da dieta, pode ser necessário administrar medicamentos para os corrigir. É necessário um controlo rigoroso da diabetes. O exercício físico regular é muito importante para manter saudáveis o coração e a circulação.

Mecanismos de atuação

Diversos mecanismos podem levar as placas de aterosclerose a provocar doenças:

  • ISQUÉMIA – A placa dificulta a passagem de sangue dentro da artéria, levando a deficiente irrigação dos órgãos, que ficam carentes em nutrientes e oxigénio. A angina de peito é um exemplo de doença provocada pela isquémia.
  • ENFARTE OU NECROSE – A partir de determinado momento, pode surgir obstrução total à passagem de sangue na artéria afetada, geralmente pela formação de um coágulo em cima da placa aterosclerótica. Os órgãos e os tecidos deixam de receber sangue e morrem. São exemplos o temido enfarte do miocárdio e, também, o enfarte cerebral.
  • EMBOLIA – É provocada pela fragmentação da placa aterosclerótica, com libertação de pequenos pedaços que podem viajar através da corrente sanguínea e ir entupir outras artérias de menor calibre. A doença mais conhecida é a embolia cerebral.
  • ANEURISMA – A placa fragiliza a parede da artéria, que se torna distendida e sujeita a rompimento ou rutura. Ocorre, com alguma frequência, o aneurisma da aorta.

A aterosclerose é responsável por quase todos os casos de enfarte do miocárdio, trombose e hemorragia cerebral

A eliminação dos fatores de risco pode restringir a probabilidade da aterosclerose se manifestar ou, pelo menos, adiar as suas incidências

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