E-NEWSAÚDE #8

Maio | Junho 2017

ESPECIAL ALERGOLOGIA

Alergias primaveris
Sintomas controláveis

prevencao 9 artigo

CRISES DE ASMA, ESPIRROS SÚBITOS, LACRIMEJO, INCHAÇOS NA PELE, MANCHAS VERMELHAS... A PRIMAVERA PODE SER A ESTAÇÃO MAIS ESPERADA PARA ALGUNS, MAS É, PARA OUTROS, O INÍCIO DE UM TORMENTO DIÁRIO, DEVIDO ÀS ALERGIAS. PORÉM, MUITOS DOS SINTOMAS PODEM SER CONTROLADOS.

A transição do inverno para a primavera costuma coincidir com o aparecimento ou exacerbação de determinadas perturbações, como as depressões psíquicas ou as úlceras gastroduodenais. Também são muitas as pessoas que, a partir de março, veem condicionada a sua existência por sintomas tão incómodos como os espirros frequentes, o lacrimejo ou as crises de asma, sobretudo as pessoas sensíveis ao pólen. Com efeito, o pólen de certas espécies vegetais, propagado pelo vento, é o grande responsável pelas alergias primaveris. O pólen é o alérgeno mais comum no nosso meio; de tal modo que, se se fizessem testes diagnósticos a toda a população, provavelmente 20% das pessoas teriam resultados positivos com o pólen ou apresentaria no sangue anticorpos específicos contra o pólen das gramíneas – grupo de plantas a que pertencem os cereais – e outras plantas. Felizmente, nem todas as pessoas sofrem os sintomas: é aquilo que os especialistas denominam de “sensibilização assintomática”. Os especialistas concordam em definir a alergia como uma reação excessiva do organismo humano, provocada por substâncias que este reconhece como nocivas, apesar de, na realidade, não o serem. Com efeito, no doente alérgico, produz-se uma resposta exagerada do seu sistema imunitário face a diversos alérgenos, o que desencadeia uma reação nociva, que se caracteriza pela elaboração de uma proteína chamada imunoglobulina E – IgE.

DIVERSAS MANIFESTAÇÕES

Em rigor, não se pode falar de uma manifestação alérgica, já que a reação alérgica não é única. Pode manifestar-se de diferentes formas, em diferentes partes do corpo e com maior ou menor intensidade. Os especialistas classificam as manifestações alérgicas mais comuns de acordo com a zona afetada: na mucosa conjuntiva – lacrimejo, ardor nos olhos e avermelhamento; na mucosa nasal – espirros, secreção aquosa ou entupimento do nariz; e, finalmente, na pele – urticária, inchaço e dermatite. É, ainda, necessário acrescentar outra manifestação, a mais grave, o chamado choque anafilático, no qual não só se associam sintomas cutâneos, respiratórios e digestivos, como também se produz uma quebra brusca da tensão arterial, que pode comprometer a vida do doente. Mas tão grave consequência raramente ocorre em pessoas alérgicas ao pólen. Nestes doentes, os sintomas mais frequentes são a rinoconjuntivite – isto é, a irritação das mucosas dos olhos e do nariz – e, nalguns casos, a bronquite asmática. A rinoconjuntivite não é uma perturbação grave, mas torna-se muito incómoda de suportar: durante dois ou três meses por ano, os constantes lacrimejos, picadas e espirros dominam o dia a dia destas pessoas. Quando esta perturbação é devida ao pólen – polinose –, também a asma alérgica não é grave, dado que apenas afeta aqueles que, além de serem alérgicos, sofrem de hiperreatividade brônquica. Como é lógico, a intensidade com que estes quadros se manifestam depende da concentração do pólen no ar. Quando a presença do pólen na atmosfera respirável ultrapassa os 50 g por metro cúbico de ar – precisam os especialistas –, aumenta a probabilidade de reação por parte de uma pessoa alérgica; e, por vezes, chegam a produzir-se concentrações de mais de 500 g de pólen por metro cúbico de ar. Definitivamente, é a exposição ao alérgeno que determina a intensidade da reação alérgica e esta, por sua vez, depende de fatores regionais, ambientais e meteorológicos. Assim, a humidade das regiões costeiras limpa o ar de pólenes, depositando-os no solo. Mas também existem, segundo os especialistas, fatores potenciadores, como a contaminação do ar, por exemplo, que atua como irritante das vias respiratórias. O monóxido de carbono e o óxido nitroso, libertados pelos motores dos veículos automóveis, tal como outras substâncias, entre elas o enxofre, que se libertam na combustão, atuam como irritantes e aumentam a permeabilidade das vias respiratórias à passagem de antigénios. Se a mucosa do nariz estiver previamente irritada, é muito mais fácil e provável que o pólen passe para o sangue e fabrique anticorpos, concretizando o mecanismo da alergia.

CONTROLO DOS SINTOMAS

Os sintomas da alergia ao pólen podem ser perfeitamente controlados com a administração de medicamentos, sendo também possível prevenir esses sintomas mediante extratos hipossensibilizantes. As medidas de controlo também constituem outra forma de prevenção, com as quais se procura afastar o doente da fonte antigénica, embora sejam difíceis de levar a cabo e a sua eficácia nunca seja completa. Os sintomas nasais e conjuntivos podem controlar-se com anti-histamínicos e, no caso de não serem suficientes, podem associar-se outros fármacos, nomeadamente cromoglicato, esteroides tópicos ou anti-inflamatórios de tipo corticoide; se o doente também sofre de asma, empregam-se broncodilatadores, de forma regular. Geralmente, os alergologistas procuram utilizar as citadas substâncias de forma tópica ou local, através do uso de colírios, aerossóis nasais ou inaladores brônquicos, dado que são mais práticos e eficazes, permitindo que o medicamento chegue diretamente ao local onde se produz a reação alérgica e evitando os efeitos secundários no resto do organismo. A outra grande ferramenta terapêutica é a denominada hipossensibilização. Trata-se de uma técnica que se baseia na injeção regular dos alérgenos, em doses crescentes, com o objetivo de conseguir que o doente os vá tolerando cada vez melhor. O tratamento com imunoterapia específica é de longa duração: prolonga-se, em média, durante três anos. A hipossensibilização nem sempre é eficaz, mas nas alergias aos pólenes obtêm-se resultados muito bons. São relativamente poucos os casos descritos de remissão espontânea dos sintomas; mas graças à administração de extratos hipossensibilizantes, em 75% dos casos, esses sintomas diminuem de intensidade ou cessam por completo. Após dois ou três anos de tratamento, estes doentes conseguem passar a primavera sem quaisquer problemas, enquanto antes necessitavam de tratamento quase diário, durante dois meses seguidos.

OUTRAS ALERGIAS

ÁCAROS: Diversos estudos clínicos permitiram comprovar que a inalação de pó contendo uma determinada espécie de ácaros pode provocar asma. Os ácaros são pequeníssimos aracnídeos dotados de oito pernas; muitos deles, possuem uma armadura bucal, que lhes permite perfurar a pele dos animais, incluindo o homem, e sugar-lhes o sangue. Uma das espécies, o ácaro da sarna, vive apenas da pele do homem, onde a sua atividade parasitária pode provocar uma comichão intensa. Outra espécie vive nas roupas das camas, colchões, almofadas, cortinados e pó em geral, desde que contenha restos de pele humana – ainda que de dimensões microscópicas. A inalação deste pó pode, como já referimos, provocar ataques de asma. Outras espécies de ácaros vivem em terrenos graminosos ou em cearas. A sua picada pode provocar borbulhas e prurido. Os ácaros das farinhas e da fruta podem, igualmente, causar vários tipos de irritação da pele.
ALERGIA AO SOL: O sol, considerado por alguns como o melhor antidepressivo natural, pode converter-se, também, na origem de perturbações alérgicas sazonais, como a urticária solar, que consiste na súbita aparição de inchaços ou borbulhagem, como consequência da exposição aos raios ultravioleta. Neste sentido, recomenda-se a aplicação, antes da exposição ao sol, de cremes com filtros de elevada proteção. Apenas quando a prevenção se mostrar ineficaz, será necessário um tratamento à base de anti-histamínicos, administrados por via oral. Por outro lado, o contacto com algumas plantas contendo agentes fotossensibilizantes – substâncias que fomentam a ação dos raios solares sobre a pele – pode ser a causa de certas reações alérgicas, que se caracterizam pelo avermelhamento da pele e pela erupção de pequenas vesículas cutâneas, com conteúdo líquido, bem como pela sensação de ardor e de picadas. Por vezes, como sequela, permanece uma pigmentação escura, na zona afetada. Algumas plantas podem originar urticária – inchaços – ou eczema – dermatite – por contacto e sem necessidade de coexistir uma exposição ao sol. É o caso do alho e da prímula.
INSETOS: Com a chegada do bom tempo, aumenta a vida ao ar livre e a probabilidade de se sofrer determinadas afeções, como as picadas de alguns insetos, denominados himenópteros, designadamente a abelha, o besouro ou a vespa. Estas podem produzir diversas manifestações, que vão desde um discreto inchaço local – que provoca ardor e cujo tratamento consiste em repousar e aplicar gelo – até à aparição de borbulhas urticárias na superfície cutânea, passando pela dificuldade respiratória por obstrução das vias aéreas superiores – edema da glote – e inferiores – crise asmática –, náuseas, vómitos, diarreia e, em certas pessoas muito sensíveis, uma descida brusca da tensão arterial, com a instalação de choque anafilático, a mais terrível das urgências alergológicas, que pode provocar a morte, se não se receber assistência médica atempada. Em tais situações, é obrigatória a injeção de adrenalina por via subcutânea, juntamente com corticoides e anti-histamínicos.
CÃES E GATOS: Um dos alérgenos mais potentes que se conhecem encontra-se na saliva do gato, a qual, devido ao hábito de se lamberem com frequência, se deposita no pelo, passando para o ambiente sob a forma de finas partículas. No caso dos cães, as substâncias responsáveis pelas perturbações alérgicas encontram-se nos pelos, enquanto que os roedores – hámsteres, cobaias, etc. – possuem proteínas altamente alergizantes na sua urina, que podem causar sintomas nas pessoas que limpam as suas jaulas, nos tratadores de animais e em trabalhadores de laboratórios de investigação. Quando um indivíduo começa com manifestações de alergia na presença da sua mascote, a principal medida é afastar-se definitivamente do animal. A administração de extratos hipossensibilizantes ou vacinas, elaborados com antigénios de animais, deverá ser estritamente vigiada pelo alergologista, já que pode originar nalguns casos o agravamento dos sintomas. Tais preparados podem estar indicados no caso de veterinários e outras pessoas que desempenham o seu trabalho quotidiano entre animais.
MEDICAMENTOS: A ingestão de determinados medicamentos, mesmo que se administrem por via oral e não exista um contacto direto com a epiderme, também pode dar lugar à aparição de dermatites ou eczemas. Entre estes medicamentos, destacam-se certos antiarrítmicos, alguns contracetivos orais, anti-inflamatórios, diuréticos, anti-histamínicos de uso tópico, tranquilizantes, antifúngicos, sulfamidas, etc. Os surtos de determinadas afeções cutâneas de origem alérgica podem mostrar uma tendência sazonal, que costuma manifestar-se nos meses de primavera: é o que acontece, por exemplo, com a disidrose, afeção caracterizada pelo desenvolvimento de pequenas vesículas e, por vezes, de ampolas de maior tamanho, ambas com um conteúdo líquido claro. Localizam-se nos espaços interdigitais, nas costas dos dedos, nas palmas das mãos e nas dos pés. Nalguns doentes, a ingestão de níquel, presente em alimentos cozinhados e enlatados em recipientes metálicos, pode agudizar esta forma peculiar de eczema. Este tipo de lesão é, também, característico de outra forma de dermatite alérgica que costuma afetar o tronco ou a região glútea e, sobretudo, os membros inferiores: o chamado prurigo, cuja causa mais frequente, nas crianças, são as picadas de mosquitos, percevejos e pulgas.
ALIMENTOS: O ovo, o leite de vaca e o peixe são as principais causas das alergias alimentares infantis, mas existem outras igualmente conhecidas, como os pêssegos, os morangos, os amendoins, as amêndoas, as castanhas, o kiwi ou o alho-francês. Cerca de 10% da população adulta do nosso país apresenta alergia a determinados alimentos, segundo estudos epidemiológicos efetuados. Este tipo de alergia pode manifestar-se em diversas partes do corpo. Na pele, provoca urticária, inchaços, avermelhamento e picadas; no aparelho digestivo, dores abdominais, vómitos e diarreias; e no aparelho respiratório, é frequente provocar asma ou rinite, pelo simples ato de cheirar. A alergia alimentar é uma das mais graves, uma vez que pode produzir desde um simples inchaço a um perigoso choque anafilático. No entanto, há que diferenciar entre alergia alimentar e intolerância a um dado alimento. Em ambos os casos, há uma reação adversa à substância ingerida, mas a resposta do organismo é diferente. A intolerância tem a sua origem em mecanismos de intoxicação, má digestão ou efeitos farmacológicos de algumas substâncias presentes nos alimentos; enquanto que a alergia provoca a reação do sistema imunológico, que produz anticorpos especiais, dirigidos contra os alimentos.

Primavera sem (muitos) sobressaltos

Uma das medidas preventivas, que pode ser adotada pelo doente alérgico, é evitar a exposição ao alérgeno responsável pelos seus sintomas. Infelizmente, os alérgicos ao pólen dificilmente podem evitá-lo por completo; mas é possível tomar algumas precauções. Deste modo, na primavera e no verão, deve evitar-se sair para o campo ou para lugares onde abundem as espécies vegetais alergénicas. Deve tentar-se, pelo contrário, permanecer o maior tempo possível em locais fechados, sobretudo em dias de muito vento. O doente afetado por uma polinose deve dormir com as janelas bem fechadas. Também é aconselhável que, durante os fins de semana primaveris, se mude para zonas costeiras, tal como durante as férias de verão. Durante a estação polínica, é recomendável viajar de automóvel com as janelas totalmente fechadas. Também pode ser benéfico pulverizar as casas com água, para que os grãos de pólen suspensos no ar se depositem no solo. Os aparelhos de ar condicionado ou certos filtros podem evitar que o pólen entre em casa. Na rua, devem usar-se óculos de sol. Segundo os especialistas, nem todos os doentes respondem de igual modo aos pólenes de cada primavera. Há pessoas que podem ter sintomas mínimos, enquanto outras sofrem incómodos importantes; por isso, todos devem adotar as medidas preventivas.

Fuja do pólen

  • Se vai passear pelo campo, procure fazê-lo fora da estação de polinização.
  • Escolha as zonas costeiras para ir de férias, pois aí a concentração de pólen é bastante menor.
  • Informe-se sobre a época de polinização da região para onde pensa ir de férias.
  • Em épocas de polinização, conduza com as janelas do automóvel fechadas. Se ligar a ventilação, assegure-se de que a viatura está equipada com filtros antipólenes.
  • Não ande de bicicleta nem de moto durante a época de polinização.
  • Não abra as janelas da habitação ao entardecer, pois é a hora do dia em que há mais pólen no ar.
  • Se toma anti-histamínicos, comprove que não lhe provocam sono e que pode conduzir com total segurança.

Fuja dos insetos

  • Use roupas grossas e de cores suaves;
  • Evite o uso de perfumes;
  • Não acumule lixo no jardim, nem efetue trabalhos de jardinagem com os pés descalços ou sem a devida proteção;
  • As pessoas que sofrem de alergia aos insetos devem trazer sempre consigo adrenalina, para se autoinjetarem em caso de necessidade, salvo se existirem contraindicações, como tensão arterial descontrolada, arritmias cardíacas, etc.;
  • Se se aproximar acidentalmente de uma colmeia de abelhas ou de um ninho de vespas, deve afastar-se com movimentos lentos;
  • Se uma abelha o picar e deixar o ferrão incrustado, deverá tentar-se a sua extração com uma pinça; nunca pressionar com os dedos, pois facilita a injeção do veneno.

PAG: Nem todos os doentes respondem de igual modo aos pólenes de cada primavera: há pessoas que podem ter sintomas mínimos, enquanto outras sofrem incómodos importantes

PAG: Se a mucosa do nariz estiver previamente irritada, é muito mais fácil e provável que o pólen passe para o sangue e fabrique anticorpos, concretizando o mecanismo da alergia

PAG: Em épocas de polinização, conduza com as janelas do automóvel fechadas; se ligar a ventilação, assegure-se de que a viatura está equipada com filtros antipólenes

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